sexta-feira, dezembro 22, 2006

Livro sobre História da Ciência e Ensino



SUMÁRIO

Introdução: A história das ciências e seus usos na educação, Roberto de Andrade Martins.

Parte I – Epistemologia
1. Notas sobre o ensino de história e filosofia da ciência na educação científica de nível superior, Charbel Niño El-Hani.
2. Breves considerações sobre a natureza do método científico, Antonio Augusto P. Videira.
3. O dogmatismo científico de tradição materialista, Osvaldo Pessoa Jr.
4. Sobre continuidades e descontinuidades no conhecimento científico: uma discussão centrada na perspectiva kuhniana, Luiz O. Q. Peduzzi.

Parte II – Física
5. Interações na física: ação à distância versus ação por contato, André K. T. Assis.
6. O ensino da termodinâmica por meio da prática social, Marcelo Luis Aroeira, Rosella, João José Caluzi, Zenaide Prado Lyra e Silva.
7. Pierre Curie e a simetria das grandezas eletromagnéticas, Cibelle Celestino Silva.
8. Do mundo fechado da astronomia à cosmologia do universo fechado do big bang: revisitando novos dogmas da ciência astronômica, Marcos Cesar Danhoni Neves.
9. A maçã de Newton: história, lendas e tolices, Roberto de Andrade Martins.
10. Isaac Newton, as profecias bíblicas e a existência de Deus, Thaís Cyrino de Mello Forato.
11. A indução eletromagnética na sala de aula, Valéria Silva Dias.

Parte III – Biologia
12. A botânica no ensino médio: será que é preciso apenas memorizar nomes de plantas?, Fernando Santiago dos Santos.
13. A história da ciência e o ensino da genética e evolução no nível médio: um estudo de caso, Lilian Al-Chueyr P.Martins & Ana Paula O. P.Moraes Brito.
14. Ensino do sistema sangüíneo humano: a dimensão histórico-epistemológica, Nadir Castilho Delizoicov.
15. História do dna e educação científica, Nadir Ferrari & Neusa Maria John Scheid.
16. Razão, experiência e imaginação na ciência – o caso de Charles Darwin, Anna Carolina K. P. Regner.

Parte IV – Outros
17. Alguns aspectos da teoria da matéria: atomismo, corpuscularismo e filosofia mecânica, Luciana Zaterka.
18. Equações algébricas: uma abordagem histórica sobre o processo de resolução da equação de 2º grau, Sergio Nobre.

O escândalo dos Doutores


Por: Renato Mezan, Professor titular da PUC-SP, autor de "Freud – A Trama dos Conceitos" (Perspectiva), entre outros livros.

Abro meu e-mail e deparo com uma chamada intrigante: "A PUC-SP [Pontifícia Universidade Católica] não discrimina doutores". Quem envia a mensagem é a Assessoria de Comunicação Institucional (Acipuc): para meu espanto, fico sabendo que muitas faculdades particulares se recusam a contratar professores com título de doutor ou, mesmo, os despedem logo após a defesa. E por quê? Porque um doutor ganha alguns reais a mais que um mestre, e, este, mais do que um bacharel, licenciado ou especialista.
Dia seguinte: encontro na Ilustrada uma crônica de Moacyr Scliar, "Crime e Castigo". O coordenador está passando uma descompostura no professor, cuja freqüência a um curso de pós-graduação acaba de ser descoberta: como ousa ele fazer tamanha bobagem? E dá-lhe ameaças! O professor, atônito, concorda em desistir da pós ou, pelo menos, manter secreto o seu título quando o obtiver -qualquer coisa, desde que não perca o emprego.
Conversas com colegas me fazem ver que o assunto não é, como havia pensado, uma piada de mau gosto. A "discriminação contra os doutores", por motivos que beiram o ridículo -mais R$ 10 por hora-aula-, na maioria das vezes é um dos escândalos mais grotescos que encontramos nesse amontoado de aberrações em que se converteu o ensino superior pago neste país. Custa a crer que o aperfeiçoamento de um professor seja causa de demissão ou de não-contratação; no entanto é o que vem acontecendo em inúmeras escolas particulares. Aqueles com quem conversei a respeito estão receosos; temem ser postos no olho da rua se forem identificados. Mas suas experiências são "amargas", como me disse um deles.
Não basta, contudo, esfregarmos os olhos e nos indignarmos com esse absurdo. É preciso refletir sobre o que ele significa, sobre o descalabro que se instalou no setor pago do ensino superior. O paradoxo torna-se ainda maior se lembrarmos que, nas últimas décadas, órgãos como o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], a Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (Superior) e a Fapesp Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São (Paulo) aplicaram centenas de milhões de reais em bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, visando à capacitação do pessoal docente e, por extensão, à melhoria do nível de ensino no país.
Apenas uma fração dos que obtêm esses títulos podem ser absorvidos pelas universidades públicas ou por escolas particulares que valorizam a titulação, como as PUCs, FGVs e algumas (poucas) outras. Quando o recém-doutor envia seu currículo ou vai fazer uma entrevista, descobre que seu título depõe contra ele, que está "overqualified"... Sabemos que, para credenciar um curso, o Ministério da Educação exige, entre outras coisas, uma certa cota de doutores e mestres no corpo docente; mas essa cota muitas vezes não é observada ou, quando o é, portadores de certificados de especialização (curso no qual não é preciso redigir uma tese) contam como mestres. Credenciado o curso, as verificações são esparsas e complacentes, aceitando-se explicações esfarrapadas para a insuficiência de pessoal titulado. Estamos diante de uma concepção do ensino como mercadoria e da mão-de-obra que produz essa mercadoria como fator meramente quantitativo, cujos custos devem ser mantidos no patamar mais baixo possível.
A educação superior está estruturada como uma pirâmide: os alunos da graduação são educados por alguém que já concluiu seus estudos universitários e que busca na pós-graduação um complemento paraavançar na carreira. O título deveri a ser um diferencial capaz de decidir uma contratação, como é nos concursos, mas se verifica o oposto: contanto que sejam preenchidas as horas-aula, é mais lucrativo pagar menos e selecionar um professor que tenha apenas bacharelado, argumentando que a "cota" de titulados (10%, no caso dos doutores) já está preenchida. E os alunos que se danem: desde que paguem suas mensalidades, o que menos importa a quem lhes vende um diploma é a qualidade do que for ensinado. Todos conhecemos "universidades" em que, como nos clubes, para entrar no campus se passa um cartão pela catraca; basta estar intramuros, ainda que na lanchonete ou no cabeleireiro, para "ter presença" e não "estourar em faltas".
Conhecimento novo - A miopia dos donos dessas arapucas tem um componente de ganância e outro de ignorância, esta a respeito da diferença entre um doutor e um mestre. Um doutor não é apenas um mestre que escreveu mais uma tese; pelas regras da academia, ele pode orientar candidatos a ambos os títulos porque é um especialista em sua área e cujo trabalho foi avaliado publicamente por uma banca na qual pelo menos dois componentes devem ser de outra instituição.
Não estou idealizando o valor de um título: todos sabemos que há teses melhores e piores, departamentos mais exigentes ou menos. Mas é lícito supor que alguém que passou pelo duro teste de duas defesas de tese só pode enriquecer o curso de graduação em que vier a dar aulas.Outro equívoco que precisa ser dissipado diz respeito ao "binômio ensino e pesquisa". Sem querer desqualificar a atividade depesquisador, deveríamos reconhecer que muitos professores, titulados ou não, não possuem vocação para produzir conhecimento novo, que é o que significa no sentido acadêmico a palavra "pesquisa". Seu talento é transmitir o conhecimento já existente, algo tão necessário quanto pesquisar, especialmente nos cursos de graduação, nos quais se trata de equipar o aluno com o saber já acumulado naquela área de estudo.
Preparar boas aulas não é o mesmo que pesquisar; se é preciso ler, informar-se, planejar, isso não significa que quem assim procede seja um investigador desbravando as fronteiras do conhecimento. Por vezes, podem coincidir na mesma pessoa um ótimo pesquisador e um excelente professor; mas isso é raro, e é injusto exigir que seja sempre assim.
Deveríamos valorizar a figura do bom professor, empenhado em realizar seu papel da melhor forma possível. Disso, seguramente, faz parte a busca de aperfeiçoamento por meio dos cursos de pós-graduação; esses professores deveriam ser incentivados, e não punidos -é o mínimo que se pode pensar.
O mínimo necessário - Da mesma forma, os diplomas de nível médio deveriam ser mais valorizados, melhorando o conteúdo dos cursos que os conferem e desmistificando a idéia de que somente o diploma universitário conduz a um futuro mais promissor. Inúmeros alunos de escolas particulares, sobretudo nos cursos noturnos, não têm condições -nem desejam- de fazer mais do que o mínimo necessário para obter um diploma. Por que os iludir, fazendo-os crer que, ao terminar um curso de quarta categoria, estarão dando o salto para o sucesso profissional?
Não seria mais digno e mais honesto reconhecer que um curso médio consistente teria mais efeito, com um custo muito menor de tempo e de dinheiro?Mas isso implicaria reconhecer de público o que todos sabem: inúmeras faculdades particulares têm por objetivo principal o enriquecimento dos seus proprietários, e, para alcançá-lo, estão dispostas a vender um serviço de qualidade pavorosa.
O nível do que ali é ensinado só não é pior devido à dedicação de muitos professores, que consideram sua missão utilizar a disciplina que lecionam, mesmo que seja de cunho "técnico", para formar, na parca medida do possível, o espírito dos seus alunos. É indigno que seus empregadores faturem milhões economizando tostões.
Para terminar, uma sugestão concreta: que, no projeto de reforma universitária atualmente em debate, sejam introduzidos dispositivos quefavoreçam a maior capacitação do corpo docente, usando os tradicionais instrumentos empregados pelos cavaleiros para fazer andar suas montarias -a cenoura e o chicote.Cenoura: vantagens aos cursos que tenham maior proporção de professores titulados; chicote: sanções disciplinares e monetárias (provavelmenteas únicas eficazes, nesse território) contra os que, a cada ano,não aumentarem aquela proporção até chegarem a um nível aceitável de titulados - por exemplo, 50% de mestres e 30% de doutores. Quem sabe, ameaçando mexer no bolso dos empresários do ensino, o escândalo da "discriminação dos doutores" venha a se tornar mais uma das vergonhosas lembranças que o Brasil esconde nos desvãos da sua memória. Por enquanto,ele é uma chaga aberta e fede a gangrena.

Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2003200504.htm
21 março 2005.

Que tipo de professor eu sou hoje?

Esta atividade surgiu como uma proposta interessante e desafiadora. A princípio, achei-a bastante densa e difícil – afinal, fazer uma reflexão profunda sobre o tema O que fez com que eu me tornasse o professor que eu sou hoje? não me pareceu ser algo simples de se escrever, como o preparo de uma pequena resenha de aula, a tradução de um texto de duas páginas sobre meio ambiente ou, mesmo, o preenchimento de conteúdos ministrados em uma aula de Ciências ou Biologia. Não. Refletir seriamente sobre minha trajetória profissional e pessoal, pensando sobre os aspectos que me levaram a tornar-me o profissional que sou hoje, transcende o simples pensar sobre a vida: requer uma viagem no tempo, nas emoções, nos momentos bons e nos momentos ruins também. O desafio, porém, foi aceito com alegria, pois este momento ímpar de quietude, de deixar a mente divagar plenamente sobre o passado e sobre o que foi sendo tecido ao longo de anos de experiência e vivência educacionais, é muito recompensador.

Minha experiência em sala de aula começou muito cedo. Aos doze anos de idade (isso mesmo, doze anos!), vi-me pela primeira vez às voltas com alunos, lousa e giz. Eu morava em São Paulo, no Bairro da Saúde, e participava das atividades religiosas de um convento. Fiz minha catequese e minha primeira comunhão lá. Uma das freiras encarregadas do ensino da catequese analisou minha participação no curso de catecismo e, um certo dia, convidou-me a participar de um projeto que o convento estava iniciando. Tal projeto envolvia o treinamento de futuros catequistas mirins: pré-adolescentes e adolescentes que tivessem um mínimo de “aptidão didática” poderiam ser selecionados para iniciar experiências de ensino no catecismo. Eu fui um dos escolhidos. Minha primeira turma de alunos tinha, então, cerca de sete crianças de 7 a 9 anos de idade. Eu, doze. Infelizmente, não guardei nenhum caderno de anotações das aulas de catecismo que eu ministrava no convento. Não me lembro dos rostos dos meus primeiros alunos, nem de seus nomes... um fato, porém, marcou profundamente este período, profícuo em experiências, receios, erros e alegrias: a “formatura” dos alunos na catequese mirim foi uma noite inesquecível! Nesta noite de formatura, os catequistas mirins receberam do pároco um crucifixo dourado; os alunos que estavam se “formando”, um crucifixo menor, prateado. Choro dos pais, emoção da platéia. Este evento didático marcou seriamente minhas futuras escolhas profissionais.

Aos treze anos de idade, meu pai foi transferido de São Paulo para Santos. Mudança de endereço, período de adolescência, adequações de corpo e de vida nova. Senti muito medo e muita solidão. Refugiando-me dos muitos receios que pairavam sobre minha cabeça adolescente em transformação e da lacuna deixada pela falta de meus vizinhos paulistanos – com os quais aprendi a viver cada dia de minha infância –, atirei-me aos livros. Eu sempre gostei de ler, sempre gostei de tentar viajar pelo mundo, pelas culturas e pelas línguas dos povos através dos livros, da música e das imagens. Nesta época, com os meus quatorze anos de idade, eu já havia lido todos os 15 volumes da Enciclopédia Delta Internacional que meu pai comprara com muito esforço, ao sair de São Paulo para Santos (ele nunca me falou nada a respeito, mas creio que a enciclopédia serviu-lhe, inconscientemente, como uma retratação pela mudança de residência que, no fundo, marcou negativamente minha pós-infância; pode ter sido, a meu ver, uma maneira de limpar seu mea culpa, mea maxima culpa...). Talvez, ainda, como um legado da infância tardia e da experiência bem-sucedida no convento, eu li, também, os 77 livros da Bíblia católica. Comecei a estudar japonês e inglês. Lia, lia, lia; lia muito, um pouco de tudo, todo dia.

A leitura marcou minha adolescência inteira. A paixão pela leitura impulsionou-me a devorar tudo que se relacionava com o saber, com o conhecimento, com a cultura. Passei a estudar, por volta dos dezesseis anos, música teórica de forma autodidata. Nesta época, estava no nível avançado do curso de língua inglesa. Recebi, mais uma vez, uma proposta desafiadora e que marcaria, agora, minha futura vida docente como um divisor de águas: a diretora da escola Fisk onde eu estudava convidou-me, no final de 1987, para dar aulas de inglês no curso Básico, para uma turma de iniciantes. Foi um convite aceito imediatamente. Há muito eu já vinha pensando seriamente em ensinar inglês a alunos em aulas particulares; o convite da diretora caiu-me como uma luva perfeita. Digo que este evento foi um divisor de águas porque, na verdade, deste ponto em diante a minha relação com a sala de aula passou a ser visceral: da sala de aula, obtive meu sustento durante todo o período pré-vestibular; da sala de aula, também, paguei todas as minhas despesas enquanto morador de repúblicas em Campinas (estudava em período integral na Unicamp e, à noite e aos sábados, dava aulas de inglês, paralelamente a serviços esporádicos de tradução que me eram oferecidos por diversos clientes), comprei meu primeiro carro, investi em cursos, viajei, participei de congressos e fiz um sem-fim de coisas que ocupariam muito espaço nesta página caso fossem relatadas uma a uma.

Acabado o curso de Ciências Biológicas na Unicamp (Bacharelado e Licenciatura Plena), fui convidado a coordenar os cursos de inglês da escola CNA de Limeira. Mais um desafio, mais um período de aprendizagem, compartilhamento de vivências e estudos. Aprendi muito sobre relações interpessoais, sobre psicodrama, sobre como melhorar a comunicação e a empatia com o público. Participei de diversos workshops sobre auto-estima, relações no trabalho, disciplina e motivação em sala de aula. Dois anos depois, já de volta a Santos, inicio minha carreira profissional como professor de Biologia e Ciências, em duas escolas particulares da cidade. Foram duas experiências muito interessantes. Apliquei parte das teorias que havia vivenciado nos workshops (principalmente as que se referem à interatividade professor-aluno, ensino-aprendizagem, relações interpessoais e comunicação pro-ativa) durante as aulas nestas duas escolas. Certamente errei muito, devo ter repousado parte das aulas em pensamentos espontâneos de anos e anos de ensino de línguas estrangeiras (muitas vezes calcado simplesmente em saberes empíricos), devo ter tido inseguranças e deslizes. Mas, olhando com calma neste passado nem tão muito distante assim, vejo que o balanço é muito positivo.

Em 2000, tomo coragem e inicio o Mestrado em História da Ciência, na PUC-SP. Novamente, um desafio grandioso que eu pretendia abraçar com unhas e dentes. Trabalhar em duas escolas privadas e em uma unidade escolar na Prefeitura Municipal de Cubatão – além de acompanhar o Mestrado – foi um caminho árduo, permeado por dezenas de noites passadas sem dormir e finais de semana passados em frente ao computador, rodeado de livros, anotações, xerox de artigos e capítulos de livros. A escolha pela História da Ciência foi baseada em inquietações que me acompanhavam há vários anos: por que a maioria dos professores, e também dos materiais didáticos utilizados em sala de aula, fundamenta-se invariavelmente em uma análise anacrônica, linearista e pontualística da Ciência? Por que se insiste em mostrar aos alunos que a Ciência é feita de grandes nomes geniosos que descobrem as coisas “por acaso”, por insights milagrosos e teorias surgidas do nada? Por que os alunos, em geral, não gostam de Biologia? Por que a Botânica é encarada, por alunos e professores de Biologia, como algo meramente decorativo, chato e difícil de ensinar/aprender? Estas perguntas não poderiam ficar sem respostas. Eram fundamentais demais para mim. Achava que os professores de Ciências, como eu, deveriam tentar contextualizar suas aulas, tornando-as mais realistas, mostrando aos alunos que a Ciência não é coisa de lunático, de gênio tresloucado ou de descobertas únicas e isoladas. Por esta época (2002), comecei a questionar profundamente minhas aulas, chegando a achá-las, depois de várias autoavaliações, sérias demais, preocupadas demais com a contextualização histórica, em detrimento das competências e habilidades que são necessárias ao aluno de hoje.

Nem todas minhas inquietações foram solucionadas durante o Mestrado. Para buscar novas saídas, e aprofundar os conhecimentos em Educação, busquei o Doutorado na Faculdade de Educação da USP. Obviamente, nem todas as respostas foram alcançadas. Ainda há, com certeza, um longo caminho pela frente. Mas posso assegurar, pelo menos até agora, que estou no caminho certo. Tentar responder a pelo menos uma de minhas eternas perguntas – O que é que faz um professor ser um bom professor, e o que faz um aluno ser um bom aluno? – seria um trunfo e a sensação de ter trilhado o caminho certo.

Chegamos ao ponto crucial desta reflexão. O que fez com que eu me tornasse o professor que sou hoje? Diria que uma gama de fatores diferentes poderia ser uma resposta satisfatória. Estes fatores incluem, entre outras coisas, uma boa dose de empirismo; a vontade de compartilhar conhecimentos e diferentes saberes; uma vocação talvez “inata” (será que posso ousar entrar neste aspecto, o do talento natural que é tão discutido em várias instâncias no meio psicopedagógico?) para ensinar; a eterna insatisfação com o status quo da sociedade e do mundo; a paixão pelos livros, pela cultura, pelas línguas, pela história e pela filosofia; o desejo sempre latente de querer aprimorar-me e formar mentes abertas e críticas; o sentimento quase jesuítico, manifestado lá no fundo da alma, de acompanhar o desenvolvimento dos alunos, de vê-los progredir em inteligência, em ânsia por mais conhecimentos; enfim, uma eterna e jovial vontade de entender o modus operandi da mente humana, de saber conhecer seus mistérios e saber que, ao ensinar, estou contribuindo para a formação de pessoas mais comprometidas com a humanidade, mais críticas e responsáveis para consigo mesmas e para com o mundo.

Relendo tudo o que acabei de escrever, acho que poderia considerar-me utópico. Mas, perdoem-me se estiver obcecado demais por esta idéia: quem pode tirar de nós o sonho? Meu sonho, com a cabeça bem erguida e o semblante lá nas nuvens, mantém meus pés, porém, bem fincados no chão. O sonho, a utopia e a vontade de querer abraçar o mundo com as mãos mantém-me vivo, esperançoso de que ainda há muito que mudar, de que ainda há muito a se fazer nesta Terra tão caótica. E ensinar foi a maneira que achei para acalentar e tentar alcançar este sonho.